Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

              Incapazes de explicar os fenómenos e as suas causas os humanos primitivos  encontraram no Universo dos Deuses e dos heróis míticos a resposta para as suas angústias e problemas . Incapazes de encontrar uma causalidade natural explicativa da vida, socorreram-se duma causalidade sobrenatural.

Não deixa de ser significativo que os gregos só tenham conseguido criar a democracia a partir do momento que descobriram que a ordem social não era ditada pelos deuses, mas construída pelos homens; quando vislumbraram a possibilidade de construir uma sociedade cujo destino não estivesse fora dela, mas nas mãos de todos os que dela participavam.

Só quando uma dada sociedade, como foi o caso da sociedade grega, começa a entender que é ela própria que constrói a essa ordem social, essa ordem desejada, é que ela tem condições para  superar o fatalismo e o determinismo rígido.

                O fatalismo pode ser definido como uma doutrina  segundo a qual tudo o que acontece é inevitável. Em tal contexto, deliberação e acção não farão então muito sentido, pois o futuro já está previamente decidido. Para o fatalista o futuro é como o passado: um facto consumado e inalterável. Podemos ilustrar esta mentalidade com um exemplo. Não adianta chamar o médico no caso de uma pessoa ficar doente, pois se ela o chamar e já estiver determinado que ela não irá recuperar a saúde, ela não se restabelecerá; e se ela não chamar e já estiver determinado que ela irá recobrar a saúde, ela recuperará seguramente..

                Ora, todos nós sabemos que é fácil refutar o fatalismo. Todos conhecemos casos de pessoas doentes que procuram o médico e sabemos que elas têm muito mais possibilidades de obterem melhoras do que quando não o fazem. Sabemos então, pela nossa experiência, que as nossas decisões, deliberações ou acções podem mudar efectivamente o futuro.

                O fatalismo é geralmente associado às teorias filosóficas deterministas segundo as quais  o futuro já se encontra previamente determinado pelo entrelaçado de cadeias causais geradas pelos estados de coisas actuais e pelas leis do universo. Mas tais conclusões são erradas e qualquer de nós tem relutância em aceitar ser apenas uma marionette ou um brinquedo nas mãos do destino ou dos deuses.

                Creio que esta mentalidade fatalista ou anti-fatalista tem deixado na história humana marcas muito significativas. Porque o destino está traçado e não adiante lutar contra ele tivemos momentos históricos  de grande estagnação. Por outro lado, foi a crença de que  os homens e mulheres  são fazedores do seu destino  que nos brindou certamente com algumas das mais bonitas páginas da história que nos mostram toda a nossa capacidade criativa, lutadora, verdadeiramente emancipadora.

                No nosso tempo, em muitas situações , o fatalismo e a falta de esperança, são  estados de espírito verdadeiramente irónicos e cínicos. É por causa desse fatalismo e dessa falta de esperança que algumas vezes podemos ser levados a aceitar viver ou conviver com situações que condenamos.

                Creio que o único antídoto possível é o apelo a um renovado  compromisso, e a novos  comportamentos tradutores dos mais fundos valores éticos das pessoas. A única saída é então mostrar e conseguir que as pessoas vejam que existem situações com as quais não podemos conviver, ou em relação às quais não devemos sequer ser tolerantes.         

                Claro que todos sabemos que é mais fácil ficar na tranquilidade do nosso cantinho. Mas está na hora de  rompermos com o fatalismo trivial do não há nada a fazer porque tem de ser assim  porque sempre foi assim. A História ensina-nos precisamente  que só é digno de figurar nela quem foi capaz de acreditar que a condição humana é reinvenção permanente e que homens e mulheres nascem criadores.  E não foi esse afinal o exemplo dos grandes Mestres?

 

por: Carlos Latino



publicado por circular às 11:00
A cada momento passa por nós uma onda de imagens que nos faz circular pelo mundo. E nós somos do círculo, pois circular é viver.
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